Poesia é questão de coragem, é vontade de beleza
é a flecha primeira, onde a alma é que sente
é a boca inteira que faz sorrir nossa gente
é a pena ligeira e do poeta o presente.
Max Garcia
A Usina Ludopoética pesquisa e desenvolve formas criativas de incentivar a leitura, a escrita e a oralidade. Inspira-se no encantamento das crianças cantando cantigas de roda, recitando versos, girando com a poesia, brincando com os trava-línguas e enigmas do cancioneiro popular.
Inspira-se também em poetas e obras que inauguraram novas dimensões do poema: na poesia revolucionária de Mallarmé; nos concretistas brasileiros como Pignatari e os irmãos Campos; na literatura combinatória dos poetas-matemáticos do grupo OuLiPo (OUvroir de LIttérature POtentielle); nos livros mágicos de que fala Walter Benjamim; nas peraltagens poéticas de Manoel de Barros; na poesia mimeográfica de Paulo Leminski; na gramática da fantasia de Giani Rodari; dentre outros. Esses autores criaram poesias visuais, geométricas e enigmáticas que convidam o leitor a observar os detalhes, a insistir na leitura e buscar a compreensão, desvendando enigmas e se surpreendendo com sentidos poéticos inusitados.
Acreditamos que ao criarmos possibilidades para um letramento ludopoético, contribuímos para tornar o mundo compreensível transformando sua materialidade em palavras que tem cores, odores, sabores e formas sensíveis intensamente humanas. Por isso, acreditamos que a literatura unida à brincadeira e à poesia precisa ter um lugar especial na educação.
Desde menino sou apaixonado por poesia, por cantigas de roda, por letras de músicas, pelos versos recitados por minha mãe e pelos poemas nos discos de meu pai. Treinava trava-línguas e frases ritmadas metricamente, me dedicava a aprender enigmas como os famosos “o que é o que é? ”; sempre fui encantado pela linguagem. Escrevia poemas e histórias, misturava palavras, criava músicas, inventava idiomas brincando e me divertindo com palavras e sons. Adorava criar palavras inusitadas e sem significado para quem as ouvisse, mas, para mim era uma delícia a liberdade da experimentação com a linguagem. Ainda lembro daqueles idiomas próprios que inventava e me divirto. Como diria, talvez, Manoel de Barros, era a “infância da língua” em minha infância.
Uma das brincadeiras que gostava era desenhar as letras que via nos anúncios de jornais e revistas, nas caixas de remédios ou nas capas dos poucos livros que tínhamos em casa fascinado com suas formas, cores e tamanhos. Concentrado nessa vivência desafiadora e lúdica de letramento escrevi minhas primeiras letras e nessas aventuras começaram minhas experiências com a palavra escrita.
Já no ensino fundamental queria ser escritor de peças de teatro, meu sonho era ser poeta. Mais tarde, estudando teatro entre 1996 e 2000, descobri o prazer de escrever as histórias das personagens que interpretava. Decidi, então, fazer o curso de Letras – Português e estudar Latim. Em 2001, comecei minhas primeiras pesquisas sobre formas poéticas e prazerosas de aprender a ler e escrever. Com o projeto de iniciação científica “Batatinha quando nasce… nasce o prazer da leitura – o ensino de poesia como forma de aprender a gostar de ler e escrever“, percebi que o lúdico e o poético poderiam se relacionar e criar possibilidades para um letramento sensível e humanizador.
Hoje, incentivar a leitura, a escrita e principalmente a oralidade é, acima de tudo, cultivar e incentivar o ser artístico, lúdico e sensível que existe em cada pessoa e em mim.